E se esvai no momento seguinte...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Epifania da tristeza aleatória

Era uma vez...

Não, não era! E era isto que a incomodava. Nada era como ela queria ou esperasse que fosse. Parecia que quanto mais perto chegava de seu objetivo cada vez mais ele se afastava tanto que parecia inatingível aos olhos de quem está totalmente abalado.

Parecia mais um final de tarde mas nunca era só um simples entardecer... Quando ela olhou pela janela tinha perdido novamente aquele ônibus que fazia três semanas que ela jurava para si mesma que iria conseguir pegar. Mas ela não conseguia.

Almoçar era melhor quando estava sozinha pois não tinha que se preocupar se alguém importante a acompanharia e não tinha que lidar com a frustração de levar um bolo pois é difícil isso acontecer quando se caminha sozinho. Mas a janta era uma parte importante do processo, esta ela não gostava de fazer sozinha, pois ficava a sós com seus pensamentos mais densos e isto fazia ela se sentir solitária. Como um pássaro sem liberdade. Como uma paisagem sem cor, uma vida sem amor. Era justamente de tudo isto que ela queria fugir. 

E tudo, sempre, dava errado. Mesmo que fosse satisfatório nunca era um décimo do que ela queria. Estava acostumada a trabalhar em um alto nível de expectativa mas tem coisas que simplesmente não funcionam assim! 

Sentia dores nos olhos de tanto ter se acabado de chorar na noite anterior mas aos olhos dos outros tudo estava normal. Era difícil ver a desordem e o caos reinando por trás daqueles olhos brilhantes e cheios de vida... Ok, não brilhavam exatamente por estarem felizes e sim por justamente o contrário: ainda restavam lágrimas a serem derramadas e sempre tinha um idiota sedutor para fazer estas serem expelidas nas horas mais impróprias, mas ela resistia. Chorava todas as noites em que a barragem interior era incapaz de conter as milhões de lágrimas represadas por tanto tempo. Assim, a água salgada natural jorrava pelo vertedouro cintilante de seus olhos negros encorpando os rios em que desaguava. Havia sempre o risco de causar inundações gigantescas. Mas era o perigo que se corria...

Desiludida da vida ela se trancou no alto de uma torre, onde ninguém a via e isto não era muito diferente da realidade que ela sentia que fazia parte. De lá do alto ela podia ver as multidões correndo apressadas para mais um dia inútil de trabalho para ganhar aquilo que você utiliza para comer e comprar mais coisas inúteis que obviamente você não precisa. Não era melhor caçar para viver?

Ela definhou, sonhou com grandes palácios e comida a vontade. Sonhou com seu belo vestido dourado e o rosto de seu amado "príncipe encantado" enquanto homens de armadura a levaram para dar de comida aos leões.

Seus olhos estavam distantes, sua pele estava ressecada, seu cabelo desgrenhado. Mal tinha forças para parar em pé, mas ela tinha escolhido morrer da pior maneira: parou de alimentar os próprios sonhos e morreu engolida pela besta selvagem que é a sociedade "civilizada". Alguns ainda dizem que ela mora naquele beco vendendo poções do amor. Outros que ela viajou com os ciganos, outros ainda dizem que ela virou mendiga. Mas ninguém sabe realmente o que aconteceu... Talvez nem ela mesma!