E se esvai no momento seguinte...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Cap 13 - Dor

Viajando de trem eu me sentia livre, há muitos lugares para descobrir, pessoas. Por mais que a sensação de simplicidade me invadisse com os cenários arrebatadores, plantações, criações de animais. Só havia um sentimento que eu já estava acostumada e considerava parte de mim: dor. Com ela eu estava solitária, mas ao mesmo tempo fazia sentir uma comunhão comigo mesma que era inegavelmente forte. Ninguém me manipularia, ninguém ultrapassaria os muros fortes e sólidos, com bases firmes que criei em mim. Criatura da noite, podia mudar de vinho para água em dois segundos. Por mais que eu me deixasse levar, era eu que tinha o comando, por mais que no fundo eu quisesse encontrar alguém que fosse tão teimoso quanto eu. Alguém que seja tão manipulador quanto eu... Alguém que não existe, esta é a simples verdade.

De qualquer forma não acredito nos contos de fadas, não acredito que eu possa ser feliz. Existe algo dentro de mim que grita 'PERIGO!' toda vez que alguém se aproxima demais, toda vez que alguém consegue ler meus pensamentos debaixo da minha face impenetrável, através dos meus olhos.

Sou feita de fibra forte, casca dura e interior mole como um pêssego em conserva. Quem me conhece profundamente sabe... Por outro lado quem me conhece a tal ponto de saber que quando eu digo um não às vezes é um sim? Quem saberá que quando eu mais recuso proximidade é quando eu mais preciso de um abraço para não quebrar? Quem? Não existe.

E acompanhando a dor, outro sentimento comum para mim: solidão. Claro, eu afastava todos! Mas eu não conseguia mudar, confiar em alguém novamente? Muito difícil! Talvez se for alguém tão estragado quanto eu... Alguém que viva à margem, à sombra da sociedade, mesmo que no cotidiano esteja inserido em partes importantes, existe algo dentro de nós que se não cuidarmos simplesmente quebra.

Então, me sentindo quebrada, dolorida e sozinha no mundo: me vi chorando novamente. Como se fosse resolver algo, como se tudo pudesse mudar na próxima estação, como se eu tivesse chance de ser feliz de volta. 'Não há solução, você sabe' me dizia uma voz dentro de mim, 'Ainda há esperança! Não desista!' dizia outra voz dentro de mim. Não resisti e quando percebi já estava onde eu mais gostaria: no mundo onírico...

domingo, 25 de novembro de 2012

Cap 12 - Máscara

O tempo passou e Damian estava de casamento marcado, meus planos foram por água abaixo e eu apenas o ignorava, mesmo porque nada havia acontecido entre nós além de uns olhares repletos de desejo. Mas eu  não era a opção principal, mais uma vez eu estava marginalizada. Quem iria querer alguém com um passado tão sórdido? Sei que carrego o peso do que aconteceu no fundo do meu olhar, posso aparentar a melhor pessoa, mas no fundo eu sei que eu não sou. Sei cada defeito, cada escolha errada e posso enumerar as vezes que fugi para tentar me preservar embora elas sejam numerosas. Necessariamente eu me tornava cada dia mais distante enquanto vestia a máscara que me protegera tantas e tantas vezes, a frieza de fingir que sou quem eu não sou.

Eu não seria uma segunda opção, não seria o ser desprezado e jogado em qualquer viela ou vala em que eu coubesse. Nunca me contentei em jogar só por competir, meu objetivo sempre foi ganhar e só entrava em jogos e apostas que eu sabia que isto iria acontecer. Mesma coisa competir por homem: desnecessário, dificilmente eu não conseguia quem eu queria, mas também, aqueles difíceis é que atraíam o meu fascínio mais intenso, que corroíam o meu ser e me faziam perguntar: 'porque não?'

No fundo eu não queria partir, mas eu precisava sentir o vento da tempestade modificando significativamente a minha vida. Não pela primeira vez eu me vi correndo pro lado oposto dos meus desejos. Se queria um, corria pra outro. Se queria ficar, fugia. Era um padrão que eu  entendia porque existia e não conseguia quebrá-lo, pois não conseguia admitir para mim mesma quanto mais para os outros. Tudo estava milimetricamente planejado para a minha próxima fuga: a hora, o dia, quais roupas eu iria levar, as palavras que seriam necessárias na carta de despedida para a família. E é claro, o bilhete para o Damian, onde obviamente eu diria o quanto eu sentia muito por matar algo que nunca começou efetivamente, mas não. Não escrevi este bilhete, afinal que tudo ficasse subentendido, seria mais fácil de esquecer: dele me esquecer. Pois o contrário seria praticamente impossível. Não pela última vez eu fugi, na bagagem só precisava de uma coisa: máscara.